José Evaristo Silvério Netto
Durante alguns anos, quando trabalhava como professor de Educação Física da Rede de Ensino, fui observando e refletindo sobre as fragilidades da/na escola, e pensando em como poderia contribuir para melhorar a relação das crianças com a instituição Escola e principalmente conosco, os professores, e com o currículo escolar. Era nítido que meus alunos não se sentiam bem na Escola, não confiavam naquele território e nos seus atores, e talvez por isso, tinham dificuldade para o engajamento nas tarefas escolares, sejam elas quais fossem.
É bem verdade que a disciplina Educação Física é
desejada pelos alunos, porque via de regra é um dos poucos espaços no currículo
escolar onde eles podem fazer algo de forma prazerosa, brincando, jogando,
competindo, rindo. Pelo menos nas minhas aulas as crianças podiam se divertir,
e não só podiam como isso era previsto nos meus planos de aula e unidades
didáticas. Constatar que as crianças só tinham as minhas aulas no currículo
escolar onde era permitido rir, brincar e se divertir, era, e ainda é, muito
perturbador para mim.
Como aprender sem rir, sem brincar, sem jogar? Como
aprender sem sentir prazer? E conforme o tempo foi passando, fui testemunha do
projeto educacional de destruição do prazer de estudar, de milhares crianças, na sua maioria pobres, sendo que destas, grande
parte eram crianças negras.
Aos gritos, muitos colegas professores, inspetores de
corredor, auxiliares dos serviços de limpeza e de merenda, tentavam
desesperadamente controlar o mar de crianças desiludidas e incrédulas, crianças
que não se ajustam ao sistema de ensino na qual estavam sendo
submetidas. Ordem e progresso (ou melhor,
"progress(ão)") eram as regras máximas, sem as quais os estresses
entre alunos e professores ganhavam dimensões inimagináveis.
Claro que as crianças se divertiam na escola, e que os
adultos sorriam e haviam momentos de Paz e relaxamento, mas sempre estes
momentos eram interrompidos abruptamente frente à ruptura da ordem escolar por
algum aluno em conflito com as regras e as expectativas dos adultos.
Para mim este momento foi difícil, não consegui me enquadrar.
Entendi que a escolarização com seus valores de ordem e
"progress(ão)" não oprimiam só as crianças, mas principalmente os
professores, e outros colegas da educação. Foi muito difícil tomar
consciência de que @s professores estavam/estão mais frágeis do que seus alunos.
Neste momento, observando e refletindo, contestando a
ordem escolar e discutindo com os colegas teorias e pedagogias em reuniões
pedagógicas extremamente desgastantes e tristes, que mais pareciam muros de
lamentações, tive a impressão de sufocamento pelas paredes, grades, portões e
portas dos pavilhões escolares. Eu não coube na escola. Muit@s não cabem.
Tive que sair naquele momento e foi difícil ver lágrimas
em alguns rostinhos dos alun@s, que para mim representou o vínculo que
construímos e a possibilidade real de uma educação significativa, que naquele
momento eu estava deixando.
Discutir Pedagogia Social é pensar nestas lágrimas,
e nas lágrimas dos professores oprimidos. É problematizar e propor
alternativas para a superação da manutenção da ordem escolar, tal qual esta
consolidada nas escolas.
Pensar a Educação Social é pensar e implementar uma
práxis transformadora do Espaço e do Tempo educacional, de modo a não permitir
que as paredes, portas, e grades dos pavilhões escolares nos sufoquem.
Finalmente, pensar uma Educação Social é construir um
paradigma onde a criança sorria e jogue na medida em que aprende, e aprenda na
medida que ri e brinca.
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